Resumo

Pesquisa no CAPS 4 – Rua Duque de Caxias, São Paulo – Oficina de Artes Plásticas

Entrevista: Sidnei Santos da Silva, oficineiro do CAPS. A arte terapia é parte do tratamento.

Importante perceber que mesmo pessoas comprometidas pelo vício, pela situação de rua, ao entrarem em contato com meios expressivos, sentem prazer, se interessam e registram suas emoções e memórias.

Categoria: pesquisas

  • Pesquisador: Cristina Costa
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Pesquisa no CAPS 4 – Rua Duque de Caxias, São Paulo – Oficina de Artes Plásticas

Entrevista: Sidnei Santos da Silva, nascido em Maceió (Alagoas), em 20 de fevereiro de. Em !998 veio para São Paulo para estudar no Liceu de Artes e Ofícios. Teve aulas de artes plásticas com um professor do Liceu. Tem graduação incompleta em história. É mais desenhista do que pintor.

Trabalhou em serviços de assistência social para pessoas em situação de rua, consumidores de álcool e drogas em diversas instituições, quando abriu vaga para oficineiro do CAPS. Em outubro de 2021, começou a trabalhar lá. A arte terapia é parte do tratamento que conta ainda com atendimento psiquiátrico, psicológico e redução de danos, trabalha 20h semanais. O CAPS tem 18 leitos e oferece alimentação. As 4as feiras são destinadas aos pacientes do PTS, já deixaram o leito mas continuam o tratamento. Às 5as feiras, o trabalho é no território, convidando moradores de rua para o tratamento oferecido. As oficinas de arte são oferecidas também aos moradores que não estão em tratamento, mas se interessam. A participação é feita por agendamento.

O vício dos drogados não tem cura, mas eles passam certo tempo “limpos” do consumo. Além de ajudar os pacientes, comemora-se qualquer avanço na diminuição do consumo. Há uma preocupação em tentar fazer o viciado voltar para casa. Há frequentadores do CAPS que vê do interior de São Paulo para conhecer a Cracolândia de São Paulo. Chegam e não saem mais. Muitos, também perdem suas referências e não voltam mais para a família. Alguns pedem internação porque chegaram no limite da sobrevivência.

A metodologia utilizada no CAPS é diferente de aulas técnicas, há uma perda cognitiva pelo uso de drogas. A ideia é estimulá-los a se entreterem com o que desejam. Ouvem música, num ambiente lúdico e livre. Os motivos mais comuns são desenhos de casas e árvores, mas aparece de tudo. Um paciente disse que sua memória levou-o a um circo – Fui criado num circo, disse. Havia o carrinho de pipoca, o acrobata, etc.

Alguns vêm sistematicamente, embora não estejam no leito, muitos para procurar emprego e ajuda – eles se encontram e trocam informações.

As reações diante dos trabalhos produzidos são boas e efusivas, tanto é que a Oficina pretende fazer uma exposição no Espaço de Convivência. Quem administra é a AFNE – Associação Filantrópica Nova Esperança – ela será convidada também para a exposição.

Os pacientes se manifestam abertos ao trabalho da oficina. Não só a de Artes Plásticas como a de música e de capoeira. Embora a maioria não tenha experiência com arte, eles aceitam e se surpreendem com o resultado e o prazer em desenhar e pintar. Há casos em que o paciente se emociona com o que faz. Uma paciente, Cristina, chegou, tomou banho, ganhou roupas e desenhou, pedindo cores como vermelho e lilás. Ela melhorou muito e voltou para casa.

Procura-se estimular o paciente a terminar o trabalho porque isso tem efeito de levá-lo a continuar o tratamento e não procrastinar – ah! Quando eu largar a droga... Há também o estímulo a conseguir o RG e o CPF, buscar a própria identidade. Há o trabalho para engajá-lo no trabalho.

Sidnei disse que que os pacientes refletem sobre o que fazem, não desenham ou pintam qualquer coisa. Um homem, um dia, chegou e disse que estava ruim e queria desenhar um espinheiro. Pediu preto e foi completando. Há um grande estímulo pela completude. Os pacientes que frequentam mais assiduamente, conseguem comparar trabalhos e relacioná-los com os estados de espírito de cada dia.

Os viciados costumam ter cara fechada, parecendo pouco amistosos, mas é defesa. Alguns lêem e sabem muitas coisas, apesar de parecerem pouco amistosos.

Há mais homens do que mulheres e para eles há o Prosarte – grupo de conversas sobre um tema escolhido por eles. O último foi coragem, agora foi escolhido o medo. Essas rodas de conversa acontecem às terças-feiras. Chegam a discutir política – em uma reunião, um paciente disse que não quer votar. Outro retrucou que votar é um direito, ao que o primeiro disse: mas não votar é meu direito também.

A população de rua é predominantemente masculina, mas com a pandemia o número de mulheres cresceu bastante – muitas, que tinham trabalho precário, pararam de trabalhar. Hoje, há famílias inteiras na rua, casal com filhos. Uma família, perto do CAPS, fazia bicos e ficaram sem como sobreviver. Há também homossexuais e transexuais, mas são relações mais precárias e há muita prostituição, que traz dinheiro fácil. Os conflitos emocionais são sempre apresentados como causa dos vícios.

Os trabalhos são assinados e datados e contém, muitas vezes, fases de desabafo e estímulo. Quando o paciente demonstra ter problemas mentais mais graves, eles são encaminhados para outra unidade de tratamento específico. Há pacientes que saíram da cadeia, depois de praticarem roubos e até assassinatos. Outros, entretanto, ao contrário, são vítimas de roubo e violência. É comum um paciente que começa a trabalhar, ganha algum dinheiro, volta a beber e termina roubado.

Os trabalhos que foram apresentados no dia da entrevista, têm qualidade e demonstram reflexão, memória e certo comprometimento afetivo com o tema, seja para expressar o que estão sentindo, seja para contar um pouco da sua história. Todos estão terminados e percebe-se uma estrutura compositiva nas obras. Sidnei disse que recebe um tratamento afetuoso, confiante e respeitoso dos pacientes. Importante perceber que mesmo pessoas comprometidas pelo vício, pela situação de rua, ao entrarem em contato com meios expressivos, sentem prazer, se interessam e registram suas emoções e memórias. Deixam algo de si mesmos.


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